O Brasil é dono de uma cultura complicadíssima! Hoje, depois de ter estudado o tema da multiculturalidade a fundo, acho mais fácil explicar as idiossincrasias chinesas do que as brasileiras.
Por exemplo, quem seria capaz de explicar a um gringo a razão pelo qual, nas Olimpíadas do Rio, os brasileiros torceram pelo árbitro Jones Kennedy, que comandou a luta de box entre um lutador da Grã Bretanha e outro do Cazaquistão, gritando “juiz, juiz, juiz!?”
Era apenas brincadeira, diriam uns. Será mesmo?
Atualmente, o brasileiro vem confirmando porque é considerado, internacionalmente, um dos povos mais solidários e amigáveis do mundo! O coronavirus está trazendo à tona o lado mais generoso de cada um de nós: estamos nos virando para proteger os idosos, para evitar que os sem-teto morram de fome e para garantir que haja máscaras para todos.
O isolamento físico, a que estamos nos submetemos, prova que somos capazes de respeitar e proteger o outro, mesmo que este outro seja um mero desconhecido.
Por que será, então, que ainda somos capazes de demonstrações absurdas de total falta de respeito e ausência de consideração por outros brasileiros?
Querem ver?
Dirigir embriagado; usar o celular na direção do carro; não parar para o pedestre; avisar o amigo, que tomou uns chopps a mais, onde está a blitz da Lei Seca; estacionar em vaga de idoso; dirigir pelo acostamento; andar a pé pela ciclovia; levar o cachorro para passear na areia da praia; servir bebida alcóolica a menor de idade; fazer xixi na rua; deixar água parada em época de dengue; fazer a empregada subir pelo elevador de serviço; colocar mesa na calçada... a lista é interminável!
Somos um país sem educação, dirão uns. Será mesmo?
Nada do que descrevi aí em cima está relacionado à nossa “falta de educação”. Essas são contravenções cometidas por gente que estudou e conhece muito bem os valores universais, incluindo o respeito ao próximo.
Como, então, explicar para o gringo que, o povo mais solidário do mundo é também aquele que quer levar vantagem em tudo? O famoso “farinha pouca, meu angu primeiro”.
O coronavirus nos colou de castigo, de frente para parede e ajoelhados no milho, para ver se aprendemos, de uma vez por todas, que vivemos em sociedade.
Se somos capazes de nos privar da liberdade individual de ir e vir, para que a coletividade não adoeça, por que não seríamos capazes de parar na zebra para deixar alguém atravessar à frente do nosso carro?
Se o brasileiro for esperto, do jeito que se fala por aí, aprenderá sua lição de casa (literalmente, de casa) e aproveitará para se livrar de alguns hábitos muito ruins da sua cultura.
E, no fim dessa história, o coronavirus terá retirado a vida de alguns milhares de pessoas, mas terá salvado a vida de milhares de outras. Pessoas que morreriam atropeladas por motoristas bêbados ou por dengue hemorrágica, se não tivéssemos vivido essa tragédia.
E, então, terá valido a pena.
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