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O Coronavirus e o papel higiênico


Eu moro na China, na cidade de Shenzhen, e enquanto o resto do mundo começa a ser apresentado ao coronavirus, nós já estamos nos despedindo dele.


Uma coisa muito engraçada vem me chamando a atenção recentemente.


Começou com uma cliente de coaching, há um mês atrás, que mencionou que tinha medo que começassem a faltar suprimentos nos mercados de Shenzhen, e que por isso ela já havia feito um estoque de papel higiênico. Perguntei, brincando, se na casa dela não tinha água (para se lavar), mas ela respondeu: água (para beber) não vai faltar, o problema é o papel higiênico!


Uma semana mais tarde, num grupo de discussão com coaches de Cingapura, estávamos conversando sobre as necessidades básicas do ser humano e o professor nos contou que seus clientes estavam fazendo estoque de papel higiênico por conta do coronavirus.


Opa, pensei eu, minha cliente não está sozinha nesta!


Quase que no mesmo dia, meus filhos que moram na Austrália, mandaram a foto da prateleira do mercado em que fazem compras em Gold Coast sem nenhum papel higiênico! Eles falaram que os mercados estão precisando colocar segurança perto das gôndolas para evitar que as pessoas levem o estoque todo.


Ontem pela manhã, meu marido Luiz me mandou um vídeo do The Daily Show do Trevor Noah na tv americana, que mostra mulheres disputando a tapa um pacote de papel higiênico nos Estados Unidos.

Está finalmente provada a relação entre o coronavirus e o papel higiênico!!!


Por trabalhar como Life Coach e ser uma curiosa e estudiosa do comportamento humano, saí em busca de uma explicação para isso em tudo que já havia lido ou assistido.


Até que hoje, ao ir buscar uma encomenda na portaria do prédio, passei por um cachorrinho tentando fazer suas necessidades básicas. Ele estava de cócoras, se equilibrando nas patinhas da frente, orelhas abaixadas e olhar preocupado. Era visível seu desconforto e seu medo de ser pego desprevenido naquela posição.


Opa! Acho que achei a resposta para o papel higiênico!


O cachorrinho fazendo cocô estava totalmente vulnerável ao ataque de outro cachorro e às pessoas que circulavam à volta dele. Ele precisava fazer o número dois da forma mais rápida possível, antes que seu dono perdesse a paciência e o puxasse pela coleira. O cachorrinho, para atender as necessidades fisiológicas do próprio corpo, não tinha outra opção a não ser se deixar vulnerável por alguns minutos.


A repercussão do coronavirus, mais do que o próprio vírus em si, está desestabilizando as pessoas no mundo inteiro. A sensação de falta de controle é imensa! Não podemos enxergar o vírus, nem detectar se a pessoa com quem estamos conversando é portadora dele. Não sabemos, nem mesmo, se nós não somos portadores assintomáticos e estamos contaminando os outros seres humanos à nossa volta. Sem falar das notícias desencontradas e dos vídeos de gente vestida de astronauta escoltando os pobres coitados que contraíram o maldito.


Estamos todos nos sentindo vulneráveis e, segundo Brené Brown, a estudiosa da vulnerabilidade, este sentimento está ligado a outro, à vergonha.


Vergonha é uma sensação de ser imperfeito e de não merecer a companhia de outras pessoas.

Nossas necessidades fisiológicas, sobre as quais não temos controle e estamos submissos, nos envergonham porque, por dentro, não somos tão bonitos e nem cheiramos muito bem. Trancamos a porta do banheiro e passamos Bom Ar ao sair para que ninguém perceba do que somos capazes.


Ora, se eu não posso controlar a vulnerabilidade que o coronavirus me traz, pelo menos eu posso me assegurar (me deixar seguro) de que terei os instrumentos certos para me proteger de uma outra vulnerabilidade. E essa, um simples pacote de papel higiênico resolve.


Não sei se fui longe demais e estou encontrando cabelo em ovo. Só sei que os fatos estão aí para provar que, apesar de todo mundo ter chuveiro em casa, é o papel higiênico que está trazendo segurança em épocas de coronavirus.


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